terça-feira, 12 de julho de 2016

Propõem um método para avaliar o impacto das infraestruturas humanas sobre a fauna

Investigadores do Museu Nacional de Ciências Naturais (MNCN-CSIC) e da Concordia University of Montreal colaboraram num estudo no que analisam os efeitos que provocam as infra-estruturas humanas sobre aves e mamíferos. No estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, propõem um método para poder avaliar ditos impactos e tratar dos reduzir no futuro.

As estradas e zonas urbanas fragmentan o médio natural  impedindo  que muitas espécies animais disponham das áreas que precisam para sobreviver. A expansión destas infraestruturas avança a uma velocidade que essas espécies não são capazes de assimilar. A maior parte do  desenvolvimento urbano que se prevé para 2050 todavía não está construído, e para então, ao ritmo actual, nosso planeta terá máis quilómetros de estradas asfaltadas dos que nos separam do planeta Marte.

"Depois de cartografar o entramado de infraestruturas de transporte da Europa, observámos que a metade da superfície não urbanizada encontrase  a menos de 1,5 km de alguma estrada ou vía férrea, e quase o 100% a menos de 10 km, e isso sendo conservadores”, explica Aurora Torres, a autora principal do estudo, que faz parte de sua tese doutoral. “Este aumento do número de infraestruturas implica que os animais não têm muitas possibilidades de viver afastados da influência humana", continúa.

As estradas e zonas urbanas fragmentan o meio natural impedindo que muitas espécies animais disponham das áreas que precisam para sobreviver / Carlos Antón


"A aproximação para estimar e predizer o impacto das infraestruturas proposta neste estudo pode contribuir para a evitar as perdas de biodiversidade que se produziram históricamente em zonas urbanizadas", comenta Juan C. Alonso, investigador do MNCN e director da tese.

Os autores propõem que esta investigação sirva como ferramenta para avaliar os efeitos de futuros desenvolvimentos de infraestruturas em diferentes cenários. “Este trabalho pode ser o ponto de partida para coordenar uma rede internacional de investigadores que avaliem o impacto global das infraestruturas humanas sobre a fauna, contribuindo ideias e soluções inovadoras” aponta Torres. Em concreto, propõe-se optimizar o método proposto em PNAS  para o aplicar em países em vías de desenvolvimento, com ecosistemas menos fragmentados e todavía ricos em biodiversidade, onde é previsível que se construa o 90% das estradas nos próximos 40 anos.

A situação da Espanha

O estudo, que abarca todo o continente europeu, analisa com mais detalhe a situação da Espanha onde, junto a países escandinavos e bálticos, todavía encontramos grandes zonas afastadas da presença humana. No entanto, a região mediterránea é, dentre as de maior biodiversidade do planeta, a que mais desenvolvemento urbano experimentou nos últimos anos.

Uma primeira exploração mostra a clara influência das infraestruturas sobre a distribução de espécies emblemáticas da península ibérica. “Espécies como o lince ibérico, o urso pardo ou o águia imperial mostram uma maior prevalencia em zonas afastadas do homem, por isso a importância de conservar estas zonas com escassa influência de infraestruturas. Possivelmente se trata não apenas de uma preferência destes animais por ditas zonas, senão além disso, da forte pressão cinegética que sofreram no passado”, esclarece Alonso.

Usando complexas técnicas de análise espacial a alta resolução e funções que descrevem cómo se reduz a densidade de aves e mamíferos perto das infraestruturas, os autores do estudo estimam que o impacto de estas estendese por sobre o 55% da superfície da Espanha no caso das aves, e chega atingir valores do 98% no caso dos mamíferos. Os modelos predizem uma diminução demográfica global do 22% para as aves e um 47% para os mamíferos com respeito ao que ocorrería numa situação ideal, sem infraestruturas. No caso de mamíferos de grande porte, a  ausência de zonas sem infraestruturas no mundo más desenvolvido poderia num curto período de tempo impedir aos científicos medir a magnitude real destes impactos.

Os meios agrícolas são os mais gravemente afectados, o que representa um problema para a conservação da abundante biodiversidade que ainda  abrigam. É muito provável que a desaparição de espécies nestes meios seja muito rápida num futuro próximo, ao se ver agravada pela intensificação agrícolas e as alterações climáticas

Referência Bibliográfica: Torres, A., Jaeger, J.A.G. & Alonso, Juan C. (2016) "Assessing large-scale wildlife responses to human infrastructure development". Proceedings of the National Academy of Sciences.

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